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A Conservatória dos índios, da seresta e do Vale do Café

A Conservatória dos índios, da seresta e do Vale do Café

Data de Publicação: 1 de setembro de 2017 11:05:00

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     Ninguém discute hoje a importância de Conservatória para o turismo no Vale do Café. O pequeno distrito de Valença/RJ é um gigante quando se refere à atividade turística. Verdadeiro fenômeno de atratividade, o lugar merece ser estudado e sob vários aspectos copiado.
    Mais de uma centena de empreendimentos hoteleiros, gastronômicos, turísticos e culturais numa pequena porção geográfica dão conta do grande fluxo de turistas que passam anualmente por ali vindos de várias partes do estado do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo. A própria formação do lugarejo, que é símbolo da seresta, da serenata e da poesia se deu por meio do turismo e por isso Conservatória ostenta hoje o título de pólo turístico regional. Sozinho, o distrito tem mais pousadas do que algumas cidades do seu entorno juntas.
    Há cerca de 140 Km do Rio de Janeiro, com uma área de 320 Km2, situada a 518 metros de altitude, Conservatória é o 6º Distrito do Município de Valença. Recheada de atrativos culturais e gastronômicos e rodeada por atrativos naturais belíssimos, o que de fato colocou Conservatória na rota do turismo mundial e nacional foi a música.
    A história ali começou bem antes do início da colonização do Vale do Café. Consta que o lugar era uma reserva indígena dos índios Araris. Inclusive o nome viria daí. Segundo a professora e pesquisadora Marluce Magno, “a palavra conservatória faz parte, ainda hoje, do vocabulário corrente de Portugal, correspondendo a uma combinação de repartição pública com cartório de registros. Com a organização de um aldeamento indígena no lugar, através da concessão de sesmaria pelo Vice-rei Luiz Vasconcelos em 1789, instalou-se uma conservatória para controle e registro dos índios (Araris). Assim, o arraial começou a ser chamado de “Conservatória dos Índios”. Foi somente em 1938 que o nome “Conservatória” passou a abranger todo o distrito, anteriormente chamado Santo Antônio do Rio Bonito.”
    Em 1826, havia cerca de mil e quatrocentos índios povoando as terras de Valença: parte na vila assim denominada, e o restante em Conservatória. O fim desse contingente indígena foi o mesmo do de milhões de outros em todo o Brasil: a completa extinção. Vestígios dos Araris, como artefatos em cerâmica e algumas ossadas, já foram encontrados em escavações feitas em diversos locais da região.

 

A Capital da Seresta


    Alguns historiadores contam que a relação de Conservatória com a música surgiu já no final do século XIX. Ainda de acordo com Marluce Magno, não é possível afirmar categoricamente quando e onde começou o movimento serenateiro em Conservatória mas é possível apontar alguns fatores que contribuíram para que hoje ela ficasse conhecida como a capital da seresta. Entre estes, podemos citar a atuação dos professores de música entre 1860 e 1880 que eram trazidos para Conservatória para ensinar a boa arte da música aos filhos das famílias mais abastadas. Alguns relatos demonstram que esses professores se reuniam nas noites enluaradas e faziam uma verdadeira serenata aos fazendeiros, barões e suas famílias. Outro fator importante foi a ação de Emérito Silva (1911-1986), conhecido por Merito, que criou um grupo musical na cidade na década de 30. Ao final dos ensaios na casa de Merito os músicos saiam pelas ruas cantando em serenata.

   Os irmãos José Borges e Joubert de Freitas deram prosseguimento à esse movimento e são outros dois personagens intrinsecamente ligados à história da seresta em Conservatória. Outros nomes são Barra Sobrinho, Irineu Nogueira e Heitor Simões.
    Hoje não há como pensar em Seresta ou Serenata no Brasil sem pensar em Conservatória. Além da intensa programação nos finais de semana, feriados e datas comemorativas, anualmente acontece ali o Encontro de Seresteiros.

 

Pólo turístico regional


    Em torno desse mote da seresta a localidade foi crescendo e explorando de forma estratégica o grande fluxo de pessoas que começou a passar por ali. Novos empreendimentos foram chegando, novas pessoas, novas ideias. O movimento veranista foi fundamental nessa dinâmica. E a Conservatória que ficou um bom tempo isolada por conta das péssimas condições de acesso se transformou num pólo turístico regional. Alguns aspectos chamam a atenção no que se refere à organização da atividade turística em Conservatória como o planejamento, a não dependência exclusiva do poder público e o associativismo. Existe por exemplo e é amplamente divulgado um calendário anual de   atividades.
    Um exemplo do poder do associativismo local é a ACRITUR, Associação Comercial, Rural, Industrial e Turística de Conservatória que existe desde 1988 que tem como objetivo representar os interesse do coletivo de restaurantes, hotéis, pousadas e outros empreendimentos comerciais de Conservatória.
    A crise que ronda o país nos últimos anos acertou Conservatória em cheio. Principalmente a crise no Estado do Rio de Janeiro que mexeu no bolso dos aposentados e pensionistas, faixa da população que representa a maior parte dos visitantes de Conservatória. Mas as pessoas e empresários por ali se reinventam e nem mesmo a crise foi capaz de contê-los. “De um modo geral nosso público é a terceira idade, então essas pessoas tiveram dificuldades. Caiu consideravelmente o nosso movimento mas mesmo assim estamos conseguindo atravessar a crise sem uma incidência grande de fechamentos no comércio, justamente pelo trabalho que temos feito de poder atrair público diferenciados para eventos diferenciados. Estamos conseguindo fazer eventos que as pessoas conseguem vir sem gastar tanto”, falou Mauro Contrucci, presidente da ACRITUR. O trabalho da Associação tem contribuído muito para manter Conservatória como um grande pólo turístico do Vale do Café.


Principais atrações


- Serra da Beleza
   

   Uma das vistas mais bonitas da região. Não é exatamente Conservatória, fica no distrito de Santa Isabel do Rio Preto, mas é bem pertinho. A formação conhecida como Serra da Beleza tem na verdade o nome de Serra da Taquara e atrai ufólogos e curiosos de diversos lugares do Brasil e do mundo. Há um ponto de observação na RJ 137 há cerca de 12 Km de Conservatória com um mirante onde é possível observar a Serra.


- Ponte dos Arcos

    Jóia da engenharia antiga, a ponte foi construída entre 1877 e 1883 e inaugurada pelo Imperador Dom Pedro II no ano seguinte. O último trem passou por ali em 1963. Depois de desativada virou atração turístico e ponto obrigatório de parada para fotos. A ponte possui 100 metros de extensão e 12 metros de altura por 4 metros de largura.É feita em pedra, cal e óleo de baleia. Fica na RJ 137 há 7 km de Conservatória. Vale a pena conferir...

 

- Cine Centímetro


    O Cine Centímetro é uma réplica autêntica do antigo Metro Tijuca funcionando em perfeito estado. Há sessões aos sábados a partir das 19 horas com programação variada de filmes e musicais dos anos 50 e 60. O espaço foi idealizado pelo Dr. Ivo Raposo, um apaixonado por cinema que montou o Cine em sua própria casa. É possível encontrar ali os objetos originais do antigo cinema, como móveis, pedaços de tapetes, lustres, bilheteria, e projetores. Fica na rua José Borges, 205.
Telefone: 24-2438-1815
Visitação: Todos os sábados a partir das 19:00h

 

- Museu Vicente Celestino


    Ali o visitante pode conhecer uma parte do acervo do grande Vicente Celestino e de outros artistas ao som de clássicos do cancioneiro popular brasileiro acompanhado por Volney, curador e guia do museu que guarda também peças do acervo de Gilda de Abreu, Guilherme de Brito, Ademilde Fonseca, Nelson Gonçalves, Jorge Goulart, Emilinha Borba, Gilberto Alves e Nora Ney. A visitação é totalmente gratuita.
Local: Rua Monsenhor Paschoal Librelotto, n-03 - Conservatória - Valença/RJ
Horário de Funcionamento: Sextas e sábados das 07 às 21h
Telefone: (24) 2438-1134

 

- Túnel que chora

 

    Túnel Maria Komaid Nossar, que fica bem na chegada de Conservatória. É chmado de Túnel que chora por conta da água que corre em suas pedras. Foi construído por escravos em pedra bruta, sem revestimento nenhum e inaugurado em 1883. Tem 95 metros de extensão e mede 5 metros de largura por 3,5 de altura. É iluminado com lampiões antigos e tem piso pé-de-moleque.

 

- Maria Fumaça / Locomotiva 206

 

   Fabricada na Filadélfia, nos Estados Unidos, no ano de 1910 pelo inventor inglês Jorge Stepheson, a Locomotiva 206 mede 6m de comprimento, 3,15m de altura, e 2,86m de largura. Na primeira década do século XX ela foi trazida para o Brasil (sendo ela a segunda locomotiva a transitar em Conservatória. A primeira foi a de número 1 vinda da Alemanha por D. Pedro II) por navio que navegou pelo Atlântico por cerca de 30 dias. Chegou ao Rio de Janeiro onde o Coronel Leite de Souza; o Engenheiro Pedro Carlos da Silva e muitos outros Diretores da Estrada de Ferro Santa Isabel, que a haviam comprado dos Estados Unidos monitoravam o desembarque. Fica na entrada de Conservatória, e é também parada obrigatória para os visitantes.

Imagem da Galeria Conservatória
Imagem da Galeria Conservatória
Imagem da Galeria Conservatória
Imagem da Galeria Conservatória
Imagem da Galeria Ponte dos Arcos, Conservatória
Imagem da Galeria Conservatória
Imagem da Galeria Conservatória
Imagem da Galeria Maria Fumaça
Imagem da Galeria Vicente Pinto, O Lampião, figura marcante em Barra do Piraí e do Vale do Café
Imagem da Galeria Sarau em Conservatória
Imagem da Galeria Túnel que Chora
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