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Um projeto para orgulhar o Vale do Café
Data de Publicação: 1 de janeiro de 2018 10:58:00
Memória do choro é preservada no Instituto Waldir Azevedo em Conservatória
Onde tudo começou
Há muita discussão sobre a influência do Vale do Café no surgimento daquilo que um dia se denominaria “Choro” ou “Chorinho”. Não pretendemos trazer pra cá essa polêmica, deixando-a para os historiadores, antropólogos e outros bichos que entendem muito melhor do assunto. Mas nem por um instante deixamos de acreditar que os negros escravizados sequestrados em África e trazidos também de outros lugares do Brasil para o Vale do Café tiveram um papel fundamental na construção não só do Choro como do Samba. Se o processo se iniciou aqui em cima e depois desceu a serra, ou se primeiro desceu a serra e depois surgiu não faz a menor diferença na essência dessa crença. E muito nos orgulha saber que tivemos participação nisso.
Longe da popularidade que alcançou um dia, principalmente em termos comerciais, vale dizer ainda que esse recorte regional e turístico a que denominamos “Vale do Café” é um grande celeiro do choro e de chorões. Basta lembrar que a cidade de Mendes, por exemplo é considerada a capital do choro por força de lei municipal, que há um festival regional denominado “Café, Cachaça e Chorinho” e que Conservatória em Valença abriga uma idéia genial: o Instituto Waldir Azevedo.
Criado pelo renomado cavaquinista Ronaldinho do Cavaquinho, que herdou o acervo de Waldir Azevedo, o IWA como é carinhosamente abreviado o nome do Instituto, foi pensado para ser mais do que um museu depositário desse rico e grandioso acervo da música popular brasileira. Foi pensado para ser uma casa de espetáculos, um bistrô,um centro de pesquisas e uma incubadora de projetos culturais e sociais.
Herdeiro do acervo e do talento
Ronaldinho - que bem mais do que o acervo herdou também o talento do mestre - recebeu o material das mãos da viúva de Waldir, Dona Olinda Azevedo, por meio de uma história inusitada. Ela escutou um CD de Ronaldinho - executando Waldir Azevedo - durante um atendimento em um consultório médico. Pensou que fosse o marido e perguntou com a secretária de quem era aquele CD. Estava enganada, era o próprio Ronaldinho. Dona Olinda então entrou em contato com o músico, falou com ele sobre o acervo de Waldir e a partir daí surgiu uma amizade e a ideia da criação do Instituto.
Ronaldinho realizou um tributo inédito a Waldir Azevedo, intitulado “Cavaquinho Delicado”. Para comemorar os 60 anos de “Brasileirinho”, considerada a obra-prima de Waldir, patrocinado pela LIGHT e Lei de Incentivo à Cultura. O tributo aconteceu em abril de 2009, no Teatro do SESI, no Centro do Rio. Foram 4 talkshow, exposição e documentário. Sucesso de público e crítica.
O mestre
Não é preciso ser muito bom entendedor de choro para se situar e saber de quem se trata quando o assunto é Waldir Azevedo. Até pra quem não gosta ou não conhece chorinho é fácil explicar quem foi esse fenômeno. Difícil é encontrar alguém que nunca tenha escutado uma das suas principais composições e símbolo do chorinho: “Brasileirinho”. Quem nunca ouviu a música - que quase define o gênero?
Entre os entendedores o consenso é de que Waldir Azevedo tirou o Cavaquinho do papel de mero coadjuvante e o alçou a um papel de destaque no choro.
Nascido de família pobre, Waldir Azevedo nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no bairro da Piedade, e passou a infância e a adolescência no Méier. Como artista fez grande sucesso na década de 50 com músicas como “Brasileirinho”, “Pedacinhos do Céu”, “Chiquita” e “Vê Se Gostas” que lhe deram grande projeção internacional. Durante 11 anos viajou pela América do Sul e Europa. Suas composições tiveram gravações no Japão, Alemanha e Estados Unidos, onde Percy Faith e sua orquestra atingiram a marca de um milhão de cópias vendidas com uma gravação de Delicado. Waldir chegou a participar de um programa na BBC de Londres, transmitido para 52 países.
Colecionou boas histórias ao longo da trajetória algumas engraçadas como quando em sua lua de mel abandonou a esposa sozinha no segundo dia para acompanhar o Regional de Dilermano Reis. Outras bem trágicas como a morte da filha Miriam em 1964 aos 18 anos e o episódio em que perdeu um dos dedos da mão num acidente com uma máquina de cortar grama. Nesse caso, depois de um ano e meio sem tocar cavaquinho, passou por uma cirurgia, sessões de fisioterapia e enfim voltou a tocar o instrumento. Foi quando compôs a belíssima “Minhas mãos, meu cavaquinho”.
Waldir morreu em 1980 em São Paulo, aos 57 anos em decorrência de um aneurisma da aorta abdominal, poucos dias antes de começar as gravações de um novo álbum. Com extensa discografia, em seus 30 anos de carreira compôs mais de uma centena de canções e deixou 20 álbuns gravados.
O discípulo
Ronaldo da Conceição Júnior, o Ronaldinho do Cavaquinho, 46 anos, nasceu no Méier, Rio de Janeiro, de família pobre, autodidata, iniciou os estudos no instrumento bem cedo, ainda aos 14 anos. Depois de conciliar a música com diferentes atividades, a partir de 2008 passou a se dedicar exclusivamente à música. E fez muito bem! Ronaldinho é um virtuoso e tem grande destaque em todo o país como solista, showman e compositor, reconhecido por musicistas, críticos, produtores e especialistas.
Foi em Conservatória, cidade da Seresta, que Ronaldinho do Cavaquinho começou a ficar conhecido e comandou durante vários anos o evento “ SERENOITE” que é uma tradição turística e cultural da cidade. É também o artista principal e realizador do projeto “Noites de Choro, em Conservatória”, com um público de 4 mil pessoas anualmente, sempre em dois finais de semana de setembro.
Desde 2008, realiza projetos culturais patrocinados pela LIGHT e pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado do RJ. O primeiro foi o “Show Itinerante”. O projeto esteve em mais de 40 cidades do interior e assistido por mais de 20 mil pessoas.
Na discografia de Ronaldinho estão: Rio de cordas (2015); Nós no Choro Vol. 1 (2001); Sentimentos (2007); Choro Aperitivo (2011); Originalmente Choro (2003); Pétalas de MPB (2005); e dezenas de composições próprias, entre elas: Apimentado; Brisa do vale; Uma noite em Conservatória; Conversando em fá+; Feito pra ela; Foi assim, Forró do Paul, Tema pra Carla, Ave Maria da Serra e Para Carol.
O Instituto Waldir Azevedo
Localizado na rua das Flores, logo na entrada de Conservatória, o Instituto foi criado em 2013, e sua sede inaugurada dia 27 de janeiro de 2017, para ser um lugar destinado à preservação do choro e das obras do Mestre do Cavaquinho Waldir Azevedo, contendo espaço para eventos e exposição permanente do acervo do artista.
O prédio construído especificamente para ser a sede do Instituto é moderno e o espaço interior muito amplo, com aproximadamente 300m². Há ali toda uma estrutura montada para receber os visitantes e público que vai para assistir shows ao vivo toda as sextas e sábados a partir das 20:30 com o próprio Ronaldinho do Cavaquinho ou com algum convidado. Aos sábados tem também o “Chá das Cinco” também com Ronaldinho e convidados.
O acervo é uma preciosidade. Além de partituras e fotografias, há instrumentos musicais (inclusive um cavaquinho), uma vitrola, móveis, diplomas, cartas e outros objetos de Waldir Azevedo. Está ali também o famoso quadro ”Minhas mãos, meu cavaquinho” da artista Cléa Maria Novelino.
O Instituto desenvolve um projeto social denominado Brasileirinhos, destinado ao ensino de violão com o músico Fernando Cesar e cavaquinho com o próprio Ronaldinho do Cavaquinho. O projeto atende prioritariamente a escolares (crianças e adolescentes da região). Os alunos recebem material didático e ficam com o instrumento durante todo o curso.
Serviço:
- Visitação ao acervo de Waldir Azevedo em exposição permanente
- Show e espetáculos ao vivo com Ronaldinho do Cavaquinho e convidados
Onde: Rua das Flores, 145 - Conservatória - Valença/RJ
Contato: (21) 98860-8009
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