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CIÊNCIA SIM, MAS FÉ E RELIGIOSIDADE TAMBÉM
Data de Publicação: 2 de novembro de 2025 16:12:00 Para além da flor de carne: um homem que representa fé, caridade e devoção
Uma figura que recentemente tem se tornado mais conhecido entre a maioria da população no Vale do Café, Antônio Rodrigues de Paiva e Rios, o Monsenhor Rios, tem seu nome associado a um fenômeno inusitado que ocorre anualmente em Vassouras no cemitério da Irmandade Nossa Senhora da Conceição, próximo ou exatamente no feriado de finados que ocorre a mais ou menos um século e meio. Ele é mais conhecido como o padre da Flor de Carne, ou o homem da flor do padre.
Mas quem afinal, é o padre da Flor? Nascido em 1806, na cidade de Congonhas do Campo, Minas Gerais, Antônio Rodrigues de Paiva e Rios foi um homem muito simples que desde bem jovem demonstrou sua vocação religiosa. Formou-se em Filosofia e Teologia no seminário de Mariana, onde foi ordenado sacerdote. Por vinte e dois anos se dedicou como vigário de Bananal (SP), de onde foi transferido para Desengano (atual Distrito de Barão de Juparanã – Valença –RJ). Após, deslocou-se para a cidade de Vassouras (RJ), onde atuou como vigário e onde viveria até a sua morte em 09 de janeiro de 1875, aos 69 anos de idade.
Recentemente um grupo de pesquisadores tem se debruçado sobre a vida do Monsenhor Rios. A pesquisa científica denominada “Monsenhor Rios em seus aspectos folkcomunicacionais” está sendo desenvolvida pelos pesquisadores Víviam Lacerda de Souza, José Antônio da Silva e Ângelo Monteiro. A investigação corre pelo grupo de pesquisa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, (GETEDE) campus Engenheiro Paulo de Frontin, na linha cadastrada pelo CNPQ Marketing e Comunicação. O projeto pleiteia conhecer a fundo a história do Monsenhor com base em documentos, entrevistas, análises, observações. Para isso, um cronograma de ações está em planejamento para viabilizar inclusive viagens dos pesquisadores à sua cidade natal em busca de familiares, à Bananal no estado de São Paulo e à cúria de Mariana - MG, onde se encontram muitos documentos relativos ao religioso, desde certidões de nascimento, batismo, ordenação etc. O trabalho inicial partiu da análise do que se tem em termos de manifestação de devotos, chamada de ex-votos que correspondem as placas depositadas no túmulo em agradecimento a uma graça alcançada ou mensagens manuscritas em caderno de registros. Também foi feito um estudo conceitual sobre folkcomunicação a fim de compreender o fenômeno devocional e o que há de dados históricos em um primeiro momento sobre o Monsenhor Rios. Os pesquisadores participaram da III Jornada de Folkcomunicação da UFAM 2022 e submeteram um artigo científico para a Revista Internacional de Folkcomunicação. Mas pretende avançar e para isso vai coletar mais dados.
Segundo a pesquisadora Viviam Lacerda, “Vassouras vivenciou seu momento de apogeu que deu a ela o rótulo de cidade do café. Esse título não se deu por acaso, pois havia uma mão de obra empregada nas fazendas geridas pelos barões e que era de origem escrava. Tal mão de obra era fruto de tráfico negreiro, comprada pelos cafeicultores ou provinda do mercado interno. É nesse cenário de desigualdade e crueldade que Antônio Rodrigues Paiva e Rios surge com atributos de remição e caridade.”
Ainda em vida o religioso pediu que no dia de sua morte fosse sepultado em cova rasa, sem esquife e envolto em mortalha de algodão, assim como aqueles que após anos de humilhação houvera velado dignamente. Também sinalizou o desejo das coordenadas para seu enterro: a localização de sua cova deveria ser ao meio do cemitério da Irmandade Nossa Senhora da Conceição da Freguesia de Vassouras, demarcando assim o princípio pregado em toda a sua vida: a igualdade. E é ali nesse espaço, onde foi sepultado no Cemitério da Irmandade que todos o anos cresce a flor de carne. Há quase um século e meio, a misteriosa flor brota anualmente em Vassouras e atrai curiosos. Popularmente conhecida como Flor de Carne, ela começou a aparecer depois da morte de Antônio Rodrigues de Paiva.
Ciência sim, mas fé e religiosidade também
A ciência pode explicar (ou não) o fenômeno do nascimento da famosa flor de carne. Mas as explicações científicas não respondem a todas as dúvidas e questões. Há estudos sobre uma flor similar, originária da Indonésia, a Amorphophallus titanum. A asiática tem o apelido flor-cadáver, pela mesma razão que a vassourense: seu forte odor de carne putrefata. Segundo artigo publicado na revista científica Plant Biology, o cheiro vem do aquecimento natural da coluna central (spadix) da flor. “A temperatura da superfície chega a mais de 36 ° C, em comparação com a temperatura ambiente de 27 ° C. Ondas do odor parecido com a carniça são sincronizadas com esses pulsos de calor”, relata o trabalho. “Várias funções foram propostas para esta atividade energicamente cara: a atração de polinizadores, a estimulação de sua dispersão e a provisão de energia térmica para larvas ou adultos, enquanto eles estão envolvidos nas estruturas reprodutivas das plantas”, explica outra pesquisa, publicada na revista acadêmica Plant, Cell & Environment.
Há, no entanto, diferenças entre a flor-cadáver e a flor de carne. Enquanto a primeira chega a medir 3 metros de altura, a segunda tem algo em torno de 35 centímetros. Além do tamanho, há outra desigualdade fundamental entre elas: a asiática vive no máximo 40 anos e floresce apenas três vezes; a vassourense aflora em todo mês de novembro há mais de 140 anos.
O Monsenhor Rios é hoje um elo intermediador entre o devoto e Deus para o alcance de milagres. Esses devotos estão em sua maioria no município, mas em outras localidades também e esses mesmos fiéis propagam seu legado a outros por meio de uma comunicação popular chamada de Folkcomunicação, a qual é estudada em pesquisa científica. E quando pensamos em representação, temos algo além da folkcom, pois podemos pensar no potencial do turismo religioso para uma economia local, uma geração de renda, assim como acontece em tantas localidades, a exemplo de Aparecida do Norte ou de Juazeiro do Norte com o padre Cícero.
Todo esse estudo tem também um objetivo para além da esfera científica e acadêmica que é a abertura de um processo de beatificação, onde o candidato - no caso o Monsenhor Rios – é submetido a uma série de avaliações investigativas em termos de veracidade e competência/ potencial dos milagres a ele atribuídos, sendo ou não caracterizados e provados cientificamente como inatingíveis em termos de esfera terrena, da medicina ou outros setores competentes. Para isso, urnas foram posicionadas tanto no cemitério onde se encontra o túmulo do Monsenhor, quanto no interior da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Assim, o fiel tem a possibilidade de preencher um formulário com sua manifestação de ex-voto, onde pode registrar seus dados com as informações relativas à graça alcançada e depois depositar no interior das urnas que estão acompanhadas da imagem do monsenhor. Também foi criado um e-mail - monsenhorrios.vassouras@gmail.com - para quem desejar o manifesto online. A partir dessas manifestações os pesquisadores poderão ter acesso aos fiéis e seus respectivos milagres de modo a contribuir com o processo.
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