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A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Sacra Família do Tinguá

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Sacra Família do Tinguá

Data de Publicação: 1 de junho de 2017 11:07:00

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Por Sebastião Deister*

     O Distrito de Sacra Família – hoje inserido no território municipal de Engenheiro Paulo de Frontin – é um perfeito exemplo das belas freguesias que nasceram na Serra do Tinguá a partir da edificação de uma igreja católica, mormente a partir da ocupação humana daquelas colinas na metade do século XVIII. A Freguesia de Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá foi criada com esse pomposo título em 18 de julho de 1750 com o objetivo precípuo de sediar a humilde capela existente na Fazenda do Provedor do Reino, além de atender a uma pequena ermida que se construíra no Sítio das Palmeiras pelos desbravadores da região.
     Com efeito, em 1757 Domingos Corrêa e João Henrique Barata fizeram a cessão definitiva das terras pertencentes ao Sítio das Palmeiras para que nelas se dispusesse a Provisão permanente de um Vicariato destinado a assistir aquela florescente freguesia. A ideia de se consagrar uma igreja na localidade partira de Joaquim Ferreira Varela, dono também de uma enorme sesmaria na área. Católico praticante, Varela mostrava-se preocupado com a falta de um templo onde os caboclos pudessem ser orientados e no qual ele próprio e seus familiares tivessem condições de professar sua religião com conforto e segurança. Assim, foi graças à generosidade de Varela, Corrêa e Barata que surgiu a Matriz de Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá, tendo como padroeira Nossa Senhora da Conceição de pronto eleita pelos seus idealizadores. 
     A primeira Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá, criada por Provisão de julho de 1750 e consagrada em 11 de maio de 1755. Logo elevada à condição eclesiástica das igrejas perpétuas por alvará anteriormente expedido em 12 de janeiro do mesmo ano de 1755, recebeu como primeiro pároco o padre João de Sequeira Pereira, apresentado no dia 17 e confirmado em 5 de maio seguinte. Já o segundo pároco foi o padre Francisco de Paula, apresentado em 2 de maio de 1800, por sua vez  substituído pelo padre Francisco Salinas de Lima cerca de dois anos depois. 
     A igreja foi levantada num outeiro fronteiriço à atual Praça da Matriz daquele distrito, porém a precariedade da obra, a má qualidade dos madeirames e a inclemência constante do clima da região acabaram por arruiná-la em pouco tempo, provocando assim sua precoce demolição. O terreno desse primitivo templo foi de pronto utilizado para a instalação do cemitério da vila, ficando sua população mobilizada para construir, de imediato, outra matriz para o lugar. Para tanto, Marques e Barata fizeram uma nova doação de 42 braças de terras de testada, com fundos de 46 braças para a imediata construção da igreja. Uma vez edificada a nova matriz, a Lei Provincial nº 108 expedida pela Diocese determinou que a Freguesia de Vassouras fosse dividida em duas, ficando por matriz de uma delas a igreja recém-construída de Sacra Família do Tinguá, e de outra a Matriz de Rio Bonito e Vassouras, ambas consagradas a Nossa Senhora da Conceição, fato que explica a coincidência de esta santa ser a mesma protetora das duas cidades.
     As obras foram iniciadas em 8 de janeiro de 1828, e já nos primórdios de 1829 a Capela-Mor encontrava-se em condições de abrigar diversos cultos. A igreja, entretanto, somente seria finalizada em 1837, mas é certo que a igreja já se encontrava de pé em 1820, pois no 4º Volume de suas “Memórias Históricas do Rio de Janeiro”, Monsenhor Pizarro assegura que nesse ano (1820) a Matriz estava concluída, apresentando 53 palmos de comprimento no corpo total, 28 palmos de largura, no corpo principal, 312 palmos de comprimento por 22 de largura na Capela-Mor e 3 altares, sendo que no maior seria guardado o Sacrário contendo em seu interior o Santíssimo Sacramento.
     É válido hoje inferir que as atividades da matriz tenham sido prejudicadas pelo mau acabamento das obras e pela necessidade de novas ampliações no período compreendido entre 1820 e 1837, uma vez que uma nova construção foi concluída em meados de 1855.
     Talvez em função de tantas modificações e ampliações em sua estrutura original, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Sacra Família seja desprovida de um estilo arquitetônico específico ou, pelo menos, mais bem definido. Nela, há traços coloniais e neoclássicos aleatoriamente cruzados com influências barrocas, o que curiosamente confere à fachada em forma de varanda abobadada uma notável semelhança com os altares de Vassouras e Paty do Alferes, peculiaridade bastante compreensível quando se leva em consideração a ascendência que as igrejas mais antigas exerciam sobre outra naqueles tempos de ocupação da serra. 
     Assim, a Matriz de Sacra Família apresenta duas torres laterais destinadas aos sinos e à proteção do corpo central da igreja, em cujo interior há seis estratégicas colunas perfiladas que criam uma nave central pela qual as fileiras de bancos levam a visão do crente diretamente ao altar central onde repousa, em sua secular majestade, a imagem da Padroeira Nossa Senhora da Conceição. As colunatas da nave delimitam também dois curtos corredores laterais, em cujas paredes alinham-se diversas imagens de menor porte e a sequência de ícones demonstrativos da Via Sacra. Ao final de cada um desses corredores foram dispostos dois altares menores (as chamadas capelas radiantes) ricamente adornados com motivos que remetem ao altar principal, nos quais podem ser veneradas as belíssimas imagens de Santa Rita e do Sagrado Coração de Jesus. No corpo da igreja ainda existe uma confortável e silenciosa capela lateral, anexo aprazível e intimista onde se destacam ricos quadros ornamentais e lustres coloniais refinados e translúcidos. Sua ambiência tranquila e confessional sugere um relacionamento direto com Deus e proporciona momentos de paz e uma incomparável leveza nas almas cristãs.
     Ao longo de tantos anos de existência, a Igreja de Sacra Família vem guardando uma história muita rica a respeito da colonização de nossas montanhas. Seu acervo documental é valiosíssimo. Nas dependências paroquiais situadas ao lado da matriz, dormem imagens, certidões, escapulários, relicários, móveis e outros objetos próprios de uso da igreja, além de uma vasta biblioteca de valor inestimável. Embora tenha sido uma das primeiras freguesias provisionadas na Serra do Tinguá, Sacra Família não prosperou tanto quanto Vassouras, Paty do Alferes e Miguel Pereira. Assim como Ferreiros, ela parou no tempo, como se dessa maneira pudesse preservar para todo o sempre os ecos de seu passado sofisticado e glorioso, conservando para as gerações futuras a magnificência de seu patrimônio arquitetônico, cultural e religioso.

 

Imagem da Galeria Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Sacra Família do Tinguá
Imagem da Galeria Interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Sacra Família do Tinguá
Imagem da Galeria Interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Sacra Família do Tinguá
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