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Fazenda Alliança dos Faro aos Durini

Fazenda Alliança dos Faro aos Durini

Data de Publicação: 1 de junho de 2017 11:07:00 Sustentabilidade no passado , no presente e para o futuro

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Por José Luiz Júnior*

    No ano da sustentabilidade, a Revista Vale do Café traz um grande exemplo de cuidado e uso sustentável do patrimônio cultural e natural do Vale: a centenária Fazenda Alliança em Barra do Piraí. É possível estabelecer um paralelo entre o passado histórico da Alliança, seu presente e o futuro por meio de uma só palavra: sustentabilidade.

    Localizada entre os municípios de Barra do Piraí e Valença, a Alliança é um registro histórico material muito valioso para o estudo da economia e da produção de café no Brasil oitocentista. O método e as técnicas utilizadas ali para o plantio do café e de outros itens no século XIX foram pioneiras no país e denotam uma curiosa preocupação de um dos seus primeiros proprietários, o terceiro Barão do Rio Bonito com a sustentabilidade e com as boas práticas agrícolas já naqueles tempos.

    José Pereira de Faro, o terceiro Barão do Rio Bonito foi um homem visionário. Com tantos bem feitos políticos e grande contribuição ao progresso da cidade de Barra do Piraí, Faro assumiu os negócios da família aos 30 anos e imprimiu sua marca à condução deles. No caso específica da Fazenda Alliança, adquirida de um tio, transformou-a numa virtuosa unidade de produção de café - produzia os melhores cafés do mundo - e outros itens de primeira necessidade, com requintes e detalhes de fazer inveja aos grandes empreendedores da história.

    Inspirada nesse homem, a proprietária atual da fazenda, a arquiteta Maria Josefina Durini, conduz a Alliança com a mesma perspicácia e os mesmos preceitos nobres de Faro. A Fazenda Alliança continua hoje sendo uma unidade produtiva - não somente de café, mas de diversos outros - gera sua própria energia, produz seus próprios alimentos e ainda explora o filão do turismo histórico e cultural. Novamente em uma palavra: sustentabilidade.

    Com acesso pela RJ 145 (que liga Barra do Piraí à Valença), a 8 quilômetros da BR 393, a propriedade é rodeada pelas matas da Reserva da Serra da Concórdia e tem 300 hectares, dos quais 43% são de Mata Atlântica preservada.

 

PASSADO

Sustentabilidade - preocupação do terceiro Barão do Rio Bonito com um modelo de produção sustentável em pleno século XIX

    Construída pelo primeiro Barão do Rio Bonito, avô de José Pereira de Faro, a Fazenda Alliança originou-se da Boa Esperança. Mas somente depois de adquirida pelo terceiro Barão do Rio Bonito é que ganhou contornos marcantes, seja na produção, no método, na arquitetura e em tudo o mais que há na fazenda.

    José Pereira de Faro, o terceiro Barão do Rio Bonito nasceu nas terras da fazenda Floresta, onde hoje se localiza o distrito de Ipiabas (Barra do Piraí). Viveu entre 1832 e 1899. Somente aos 30 anos de idade assumiu a administração dos negócios da família. Foi um homem de grandes feitos e teve um papel fundamental na política e economia do Vale do Café, especificamente em Barra do Piraí, onde colaborou efetivamente para emancipação política e administrativa do lugar - atualmente há um busto seu na Praça Nilo Peçanha. Tinha ótimo trânsito na Corte inclusive com o Imperador Dom Pedro II. Era um homem culto, com ideias liberais, que estudou na França e que passou a atuar na atividade rural a pedido de sua mãe.

    Adquirida especificamente para produzir café, ela tem características peculiares que demonstram um modo de produção preocupado com a sustentabilidade, com a redução de custos, práticas agrícolas menos agressivas e auto suficiência. Faro por exemplo não utilizava de fogo nas matas e nos pastos.

    Quando adquirida por Faro, ela inclusive trocou de nome, passando a se chamar Alliança. O terceiro Barão do Rio Bonito foi segundo Leoni Iório, um dos mais adiantados e caprichosos agricultores do Rio de Janeiro. O Barão possuía também as Fazendas de Sant´Anna, Monte Alegre e São Pedro. Era conhecido como um dos reis do Café no século XIX. A Alliança era tão somente uma fazenda de produção. Minuciosamente transformada pelo barão numa eficiente unidade produtiva de café, com um produção anual média de 700.000 (setecentos mil) pés de café.

    Depois de comprar a fazenda, o barão mesclou dois estilos de arquitetura - o colonial e o neoclássico - e iniciou obras de modernização do complexo cafeeiro da fazenda. Estas incluíram, segundo o Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense, a construção do imponente pórtico neoclássico, marcando a entrada principal da casa-sede e que recebeu no alto do seu frontão triangular a data do término das obras, 1863.

    O terceiro Barão do Rio Bonito buscava sempre produzir o melhor café para exportação, o que se confirmou na Exposição Nacional realizada em 1861, quando recebeu Medalha de Ouro e Menção Honrosa. Na Exposição Internacional de Londres, realizada em 1862, foi agraciado com a Medalha de Primeira Classe, além de receber diversas menções honrosas. Por esse feito, foi agraciado com a Ordem da Rosa pelo Imperador D. Pedro II. Em outras exposições, como a de Hamburgo, Altona e Córdoba, também obteve os primeiros lugares na confrontação de seus produtos com os de outros países, como publicado no artigo A Vida Fluminense, da Folha Illustrada de 1871.

    Durante visita ao Vale do Café, Dom Pedro II anota em seu diário: “O sistema do Faro é preparar tudo do que precisam as fazendas, até o sabão. O pão de trigo é bom; mas, o de cará, mais saboroso, Despolpa e lava o café cuidando de trazê-lo por meio de um plano inclinado sobre que corre um carro. Tem ensaiado diversos sistemas de aprontar o chão dos terreiros; mas, ainda não preferiu nenhum.”

PRESENTE E FUTURO

A preocupação comum de Josefina Durini e José Pereira de Faro, o 3º Barão do Rio Bonito

    Um ponto comum liga diretamente a proprietária atual da fazenda, a arquiteta Maria Josefina Durini à José Pereira de Faro, o terceiro Barão do Rio Bonito. A preocupação com a sustentabilidade.

    Adquirida em 2007 por Josefina, a fazenda Alliança hoje continua sendo um grande exemplo de produção limpa e sustentável. O café não é mais o principal item produzido ali, mas também faz parte da complexa e abrangente cadeia produtiva da Alliança. Além de explorar o filão do turismo cultural na região, a fazenda tem um sistema de produção sustentável com destaque para a produção orgânica de leite de búfala e cultivo orgânico de diversos gêneros alimentícios e de primeira necessidade.

    “Nosso carro chefe é o leite de búfala o qual vendemos a Laticinios próximos da fazenda. Somos os únicos produtores de leite orgânico de bufala no Estado do Rio de Janeiro e um dos poucos no Brasil”, afirma Josefina.

    A Alliança é a “menina dos olhos” da proprietária que cultiva na fazenda alimentos de qualidade com o mínimo impacto possível ao meio ambiente. Os conceitos da agroecologia estão na raiz de tudo o que se faz ou produz ali. A produção estritamente orgânica, é certificada há 7 anos pela Ecocert, conceituada empresa franco-alemã, que tem grande destaque no que se refere a produção de gêneros orgânicos.

    O segundo grande feito foi seguir no intuito de reescrever a história da produção cafeeira da região. A Alliança participa do projeto do Sebrae de renovação das plantações de café, resgatando as áreas outrora degradadas para produção de um café gourmet, sombreado, que revela em seus grãos os sabores e aromas das árvores ao redor. Josefina, porém, não quis abrir mão do selo orgânico viajou até o nordeste brasileiro e a Colômbia para obter informação suficiente para alcançar o desenvolvimento desses novos arbustos. As primeiras mudas começam a despontar, mantidas através da técnica de gotejamento e envoltas em tiras de plástico, que as protegem das ervas daninhas. A previsão é de que em 2 anos se possa vislumbrar as primeiras sementes nos pés.

 

Sustentabilidade

    Todas as obras da Alliança foram projetadas e dirigidas pela proprietária, arquiteta Josefina Durini. A estrutura da Alliança segue a preocupação ecológica, sempre priorizando a utilização de materiais da própria fazenda nos reparos e construções de estruturas externas e internas. Foram preservados espaços da arquitetura original nas áreas comuns, porém os cômodos e banheiros tem roupagem totalmente nova. Estes deram asas à criatividade da proprietária, cada um de uma cor, com temas diferentes e peças únicas, algumas verdadeiras obras de arte. O banheiro de um dos quartos, inspirado em estética oriental, revela a atenção e minúcia dedicada a esses ambientes. Dos antigos proprietários permaneceu o altar da capela e a grande mesa da sala de jantar feita em madeira maciça.

    Importante mencionar ainda que as construções da ordenha das búfalas e aprisco dos carneiros foram construídas com materiais recicláveis: madeira plástica de pet e telhas de tetrapack. O galpão de maquinário agrícola é feito todo de bambu.

    Além das construções, o dia a dia da fazenda mantém o foco na economia e preservação de recursos: a luz vem de energia solar fotovoltaica, o lixo seco é separado e levado para cooperativas, o lixo úmido é utilizado como adubo e não há lixão na fazenda.

    “A fazenda tem muita água, muitas minas protegidas com mata ciliar e cercadas para que fiquem mais protegidas. Temos muito cuidado também com o uso do solo. Dedicamos muito tempo melhorando a fertilidade do solo, remineralizamos as terras com calcário, adubamos com esterco e vermicomposto e plantamos diversas leguminosas”, explica Josefina.

    A mão de obra da fazenda é capacitada permanentemente dentro e fora da fazenda. Os funcionários participam de diversos cursos de aprimoramento. Josefina conta que formar uma boa equipe foi um dos grandes desafios. “Hoje, depois de 10 anos, conseguimos ser um time no qual todos acreditamos e trabalhamos em prol do ´projeto Alliança´. Nossos colaboradores lidam com a horta, com a granja, as búfalas, então ninguém melhor do que eles pra falar disso. Por isso são eles que fazem a visita guiada e inclusive a visita histórica”.

    Josefina reafirma o importante papel da Alliança inclusive para inspirar outros empreendimentos. Segundo ela a região precisa de modelos sustentáveis e Alliança tem muito orgulho de ser um modelo que pode ser replicado.

Turismo rural, histórico e cultural

    Como se não bastasse tudo o que já faz, a Fazenda Alliança ainda dialoga com os principais segmentos turísticos do Vale do Café e recebe turistas e visitantes para uma rica experiência, permeada de múltiplos sentidos. Quem visita a Alliança pode observar as búfalas, a vida silvestre de uma natureza preservada, degustar produtos orgânicos da própria fazenda, conhecer o interior de uma fazenda histórica reformada, cantarias e madeiras antigas, cheiros vindos da horta e do pomar históricos, exalação do odor de cravo da índia das árvores centenárias, circuito do café (algo raro) preservado, antigos maquinários na tulha e muitas outras experiências.

    A Alliança ainda faz parte de um projeto do Sebrae de plantio de café gourmet no Vale do Café. Josefina plantou mais de 6000 mudas (em sistema orgânico) e está recuperando o café sombreado existente. A sede histórica, o circuito de café e a produção agropecuária agroecológica são instrumentos educativos do ponto de vista histórico, social, econômico e ambiental. No sistema “colha e pague” o visitante colhe os alimentos, faz sua cesta e leva para casa um alimento orgânico e saudável.

    A Tulha também pode ser alugada para festas e eventos que podem contar no buffet com os alimentos orgânicos da própria fazenda.

Gastronomia

    Outro ponto alta da Alliança é a gastronomia. A fazenda desenvolve uma culinária única e diferenciada com diversos alimentos produzidos ali mesmo. Lá, o visitante pode saborear e vivenciar uma alimentação orgânica e com origem demarcada de uma grande variedade de legumes, verduras e frutos que não se encontram comumente nos mercados.

    A curadora gastronômica da Alliança, a chef Leticia Vilardo que também é sommelier, historiadora, turismóloga e oleóloga (especialistas em azeite) explica que a experiência de um chef na fazenda é única. Letícia estudou em país como Canadá, França, Itália e Espanha e trabalhou no Le Meridien e no Copacabana Palace, mas diz que nada se compara à experiência vivenciada na fazenda Alliança. “Estou desenvolvendo um trabalho que chamo de gastronomia de origem, o que os franceses chamam de "cuisine de terroir" que é baseada em insumos produzidos no local onde se cozinha e frescos, portanto mais nutritivos e saborosos. A Fazenda Alliança é um prato cheio para qualquer chef de cozinha, uma dádiva pra mim”, afirma Letícia.

 

Serviço:

Venda de produtos orgânicos

Visitação

Espaço para festa e eventos

Localização: Município de Barra do Pirai/RJ na rodovia RJ 145 (Barra do Piraí x Valença) a 8 km da BR 393.

Contatos:

E-mail

contato@fazendaallianca.com.br

André

Whattsapp 024-99277 6664

Telefone 021-7893 4575

Adiel

Whattsapp 021-96454 8868

Whattsapp 021-99321 1646

Telefone 021-7892 9499

Escritório Rio de Janeiro

Telefone fixo 021-2266 0567

Fazenda

Telefone 024-99327 0248

Referências:

- Entrevista com proprietária e colaboradores da fazenda

- Livro “Terceiro Barão do Rio Bonito - Subsídios para a história de Barra do Piraí do autor Leoni Iório.

- Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense (INEPAC)

 

Imagem da Galeria Fazenda Alliança
Imagem da Galeria Josefina Durini
Imagem da Galeria Preparo para plantio do café na Fazenda Alliança
Imagem da Galeria Tulha da Fazenda Alliança
Imagem da Galeria Josefina Durini e os búfalos da Fazenda Alliança
Imagem da Galeria Josefina Durini
Imagem da Galeria Produtos cultivados na Fazenda Alliança
Imagem da Galeria Chef Letícia Vilardo na Fazenda Alliança
Imagem da Galeria Flores comestíveis cultivadas na Fazenda Alliança
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