Intacto seria um pouco exagerado. Afinal, o lugar já tem os seus 164 anos. Mas é tão bem conservado que impressionantemente parece que não foi tocado. E é exatamente a isso que a noção de paraíso nos remete. Algo intocado.

   Construída entre 1845 e 1853 por um dos maiores nomes da história do Vale do Café, Domingos Custódio Guimarães, o Visconde do Rio Preto, a Fazenda do Paraízo no município de Rio das Flores comporta adjetivos que vão do impressionante ao estonteante. É impossível sair de uma visita ao casarão sede da Fazenda com seus 2.200 metros quadrados, cheiro e atmosfera do século XIX do mesmo jeito que se entrou. Tem em seus dois andares, 58 cômodos e 99 janelas. É uma experiência quase transcendental de viagem no tempo. Tudo ali é grande e suntuoso. A construção, as portas e janelas, os jardins, a alameda de palmeiras imperiais que separa a estrada (RJ 145) da fachada frontal da fazenda, a mobília e decoração toda original e todo o resto.

   Uma característica marcante da Fazendo do Paraízo, denominada inicialmente como “Flores do Paraíso” é que dentro do casarão tudo está exatamente como era no tempo do Visconde. A fazenda só passou pelas mãos de duas famílias. A família do proprietário original, o Visconde do Rio Preto e depois adquirida pelo bisavô do dono atual, Paulo Roberto Belfort.

   “Há cantaria nas calçadas, nas esquadrias das portas, nas esquadrias das janelas e nos rodapés. Internamente, suas paredes são cobertas de pinturas artísticas que utilizaram as técnicas faux-marbre e trompe-l´oeil. A primeira imita o mármore e a segunda, ilusionista, a sensação de relevos”, ressalta Tasso Fragoso Pires no texto do livro Fazendas do Império. O salão de jantar, também enorme, tem suas paredes decoradas com pinturas murais do artista espanhol José Maria Vilarongo. Há um outro espaço muito importante na Fazenda tão preservado quanto o casarão sede que é um antigo e engenhoso (com a licença da redundância) engenho de café.

   Não é por acaso que ela é uma das mais procuradas para produções de filmes, séries e novelas. Recentemente foi um dos cenários da novela "Além do Tempo", da Rede Globo e grande destaque do filme "Através da Sombra" de Walter Lima Jr.

   Segundo historiadores, a Fazenda do Paraízo foi um dos mais prósperos estabelecimentos de café do Vale do Paraíba. Sua unidade de produção foi considerada, para a época, uma fazenda modelo. O Visconde do Rio Preto implantou ali uma série de modernidades pioneiras no Vale. Entre elas a instalação de um moderno conjunto de equipamentos de beneficiamento do café por força motriz, importado dos Estados Unidos – as máquinas Lidgerwood – preservadas até hoje.  Implantou também um moderno sistema de iluminação a gás nas dependências da sede da fazenda, quando o restante do Império ainda desconhecia o sistema. O Visconde possuía também uma banda de escravos, que chegou a ter 80 integrantes. De acordo com o historiador Adriano Novaes, as bandas formadas por escravos eram uma característica das fazendas mais importantes da região. A ideia dos fazendeiros era copiar a famosa banda de escravos da Imperial Fazenda de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. A mais famosa de Valença foi a da Fazenda do Paraízo, (na época, Rio das Flores, pertencia à Valença). Realizava diversas apresentações durante os festejos na cidade de Valença. Uma destas apresentações foi exatamente durante os festejos em louvor a Nossa Senhora do Rosário, como relata o memorialista valenciano Luís Damasceno, em sua obra “História de Valença”: "Ainda em um dos últimos annos de prosperidade, porque passou a nossa terra, tivemos occasião de assistir à uma festa religiosa, qual a da Senhora do Rosário, promovida por Dona Maria Bibiana de Lellis e Silva, ex-Baroneza do Rio Preto, em a qual tomou parte a excellentte banda de musica, composta de escravos de sua fazenda denominada - Paraizo - e que se compunha de 70 figuras, corretamente uniformizadas, sob a regência do maestro Manoel Corréa de Medeiros Senra. Ficou-nos gravada na memória essa festividade, pela sua originalidade, pois os solos da missa foram contados por jovens escravos da dita fazenda, as quaes tiveram occasião de fazer ouvir suas bem afinadas vozes."

   Quando do falecimento do visconde do Rio Preto, ocorrido em 1868, a fazenda contava com 319.000 pés de café de um total de 1.215.000, que se encontravam distribuídos por outras fazendas e chácaras do visconde, onde trabalhavam um total de 1.1795 escravos.

   Uma outra curiosidade da Fazenda do Paraízo é que seus proprietários atuais Paulo Roberto e Simone Belfort moram ali mesmo. Não em outro lugar construído perto do casarão mas dentro do próprio casarão. Simone explica que já se habituou. “É uma casa diferente claro, porque ela requer cuidados especiais. Estamos sempre fazendo manutenção. Mas é a nossa casa! Gostamos muito de morar aqui”.

   A atividade principal da Fazenda hoje é a pecuária de leite e corte. Mas, há alguns anos, Paulo Roberto e Simone Belfort têm investido  na área do turismo histórico-cultural,  abrindo a Fazenda para visita guiada e participando de programas como o Tour da Experiência, em parceria com o Sebrae/RJ.

   “Passamos a explorar o turismo a partir de 2000. A experiência com o turismo na fazenda tem sido muito interessante e produtiva. A gente movimenta a fazenda. É uma experiência muito enriquecedora. Recebemos grupos, escolas, é um momento de troca, e é muito agradável. Para o futuro nós pensamos em continuar trabalhando com o turismo e colaborar para que a região se consolide como um destino turístico”, falou Simone.

Serviço: Visita guiada na casa sede, engenho de café e entorno

Localização: Rodovia RJ 145, Km 99, Rio das Flores, RJ

Contatos para agendamento e informações: (24) 2458-0093; (24) 99859-5727

e-mail: contato@fazendadoparaizo.com.br

site: www.fazendadoparaizo.com.br

Fontes:

 - Conversa com historiadores e entrevista com proprietários;

- Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense (INEPAC)