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Fazenda Igapira

Data de Publicação: 5 de abril de 2023 11:11:00 A Fazenda Igapira em Vera Cruz (Miguel Pereira) e sua relação com a família Teixeira Leite

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Por Sebastião Deister* 

 

ORIGENS DA FAZENDA IGAPIRA 

    Além da famosa e conhecida Casa da Hera e do solar do barão de Vassouras, a Fazenda Igapira, centenária propriedade ligada à estirpe Teixeira Leite, de Vassouras, localiza-se em terras de Miguel Pereira, apresentando bom estado de conservação estrutural. Com área aproximada de 250 alqueires (cerca de 1.000 hectares), a Igapira localiza-se a 17 quilômetros do centro urbano de Miguel Pereira, distando de Petrópolis cerca de 50 quilômetros por um caminho vicinal procedente da Estrada do Imperador (conexão de Paty do Alferes com a Cidade Imperial). Sua altitude geográfica atinge 750 metros, superior à de Miguel Pereira, que é de 618 metros, e nas proximidades da casa-sede encontram-se as límpidas nascentes do rio Santana que corta metade do município de Miguel Pereira. Grande parte do território abarcado pela propriedade encontra-se revestida por ótima cobertura vegetal, componente natural proporcionado pela Mata Atlântica que reveste de verde as serranias circundantes. Uma vez que se encontra em considerável altitude em relação ao nível do mar, bem aos pés da Reserva Biológica do Tinguá (REBIO), e em função de seus abundantes veios de água, a fazenda vê-se contemplada no verão com temperaturas amenas que oscilam entre 15ºC e 26ºC. Já no inverno, os termômetros variam de 7ºC a 10ºC, havendo ocasiões em que eles se aproximam de 0ºC. 

     Historicamente, a Igapira resultou da fusão das fazendas Boa Vista e Bella Vista, vasta glebas que compunham dois latifúndios na região montanhosa de Vera Cruz em meados do século XIX. Embora o nascimento de tais propriedades ainda se encontre um pouco obscuro – a despeito de terem derivado de desmembramentos de glebas alocadas no interior da Sesmaria do Almoxarife Marcos da Costa Fonseca Castelo Branco a partir de 1880– temos como certo que o barão de Vassouras (Francisco José Teixeira Leite – 17.05.1804/12.05.1884)) teria recebido aquelas terras como acerto de contas prestadas pelos seus primeiros donos em função de dívidas contraídas junto às casas comissionarias administradas pelos Teixeira Leite no Rio de Janeiro, conforme nos garante Stanley Stein em Vassouras: um Município Brasileiro - 1850-1900:

      “Em 1839, Tomás Rufino da Silva Franco contraiu uma dívida com Joaquim José Teixeira Leire, irmão do barão de Vassouras e pai de Eufrásia Teixeira Leite, para comprar 12 novos escravos recém-chegados da África, aos quais acrescentou mais 19 por meio de novos empréstimos. Os escravos, porém, estavam doentes quando comprados, como veio a descobrir quando, pouco tempo depois, 15 deles morreram, deixando-o sem recursos para saldar a dívida contraída. Algumas prestações da mesma foram pagas com café consignado a uma casa comissionaria do Rio de Janeiro, pertencente a um cunhado de Joaquim José – Luciano Leite Ribeiro – que reembolsou o prestamista com o produto da venda do café. Em 1844, não obstante tal solução – julgando a dívida insuficientemente garantida, sendo contraída de maneira leviana – Joaquim José propôs então a Silva Franco efetuar a hipoteca de sua fazenda. O devedor aquiesceu, embora surgissem na região críticas violentas à hipoteca por se julgar a avaliação baixa demais em vista da desvalorização devida à alta do preço dos escravos, do progresso e da melhoria dos métodos de cultivo da fazenda verificada entre 1814 e 1844. Em um caso posterior (1859), a fazenda de Evaristo da Silva Franco, talvez filho de Tomás Rufino, achava-se onerada com uma dívida de vinte e três contos de réis a favor do cunhado de Francisco Teixeira Leite e Souza, por sua vez, cunhado de Francisco José Teixeira Leite, o barão de Vassouras, e mais um débito de dez contos a favor do comissário Caetano Furquim de Almeida, genro do barão”.

     Em relação à Igapira, Stanley arremata:

     “Num caso posterior (1859), a Fazenda de Evaristo da Silva Franco – talvez filho de Tomás Rufino – achava-se onerada com uma dívida de vinte e três contos de réis a favor do cunhado de Francisco Teixeira Leite e Souza – por sua vez, cunhado de Francisco José Teixeira Leite, o Barão de Vassouras – e mais um débito de dez contos a favor do comissário Caetano Furquim de Almeida, genro do Barão.”

      Já no que se refere ao mercantilismo do café no Rio de Janeiro, negócio altamente rentável ligado a algumas importantes famílias vassourenses, temos que em ambos os lados das ruas dos Beneditinos, do Rosário, da Visconde de Inhaúma e das ruas estreitas e ladeadas de casas comerciais de cujas portas largas vinha o cheiro de café e da sacaria, localizavam-se as casas comissionárias que recebiam a produção cafeeira dos grandes fazendeiros de Vassouras: TEIXEIRA LEITE & SOBRINHOS; TEIXEIRA LEITE & BASTOS; JOÃO BATISTA LEITE & CIA; FURQUIM JOPPERT & CIA; TEIXEIRA E CASTRO & MALAFAIA; FARO & IRMÃO; BERNARDO RIBEIRO DE CARVALHO; ORIGÃO & CIA; ROXO, MONTEIRO & LEMOS; ALVES & AVELAR; GRACIE, FERREIRA & CIA e outras. Ali, e nas ruas vizinhas, concentravam-se os negócios do café dos municípios do Vale do Paraíba; e, dali, de outras grandes casas comerciais, seguiam mercadorias para as fazendas de café, e para se abastecerem as prateleiras das casas de negócios do interior: ranchos, vendas, tabernas, botequins, assim como as bestas de carga dos vendedores ambulantes. 

     Obedecendo a uma verdade histórica, não podemos garantir de que forma tais propriedades passaram de Joaquim José Teixeira Leite – 1812/1872 (pai de Eufrásia e Chiquinha) para o irmão Francisco José. Entretanto, acredita-se que as fazendas tenham sido repassadas para o barão após a morte de Joaquim, doze anos antes do falecimento do próprio barão. De qualquer forma, sabe-se que Francisco José jamais teria ido àquelas longínquas plagas de Vera Cruz, e segundo D. Olga Teixeira Leite, neta do famoso nobre vassourense, os descendentes de velhos escravos e de outros trabalhadores da região afirmavam com convicção, quando de suas idas à fazenda em seu período de infância, que Francisco nunca visitara as fazendas da Bella Vista e da Boa Vista.

     De qualquer maneira, tais latifúndios acabaram sendo herdados pelo Dr. Leopoldo Teixeira Leite (1859-1932), filho do barão e casado com D. Inês Figueira de Mello que, por sua vez, deixou-os em mãos de um dos seus filhos – o Dr. Edgar Teixeira Leite, casado com Leonor Bezerra Cavalcanti – este criador do nome Igapira, ou seja, “Nascente do rio” em linguagem tupi-guarani, designação utilizada por ele pelo fato de a fazenda aninhar-se bem ao lado das cabeceiras do rio Santana.

        A Igapira já abrigou uma excelente produção de palmito Juçara, mas tal atividade agrícola encontra-se desativada. Como curiosidade, podemos registrar que a fazenda possui belíssimos móveis de quarto em estilo manuelino-rococó, mandados vir da Europa pelo barão de Vassouras, e uma escrivaninha que teria pertencido a Joaquim Nabuco, o homem que, segundo a História, foi o grande amor de Eufrásia Teixeira Leite. Hoje, a fazenda é administrada por D. Maria Ignez Teixeira Leite Rocha Santos (a segunda filha de Edgar e Leonor e bisneta do barão de Vassouras), ao lado dos filhos Cristina, Carlos Augusto, Carlos Fernando e Carlos Eduardo.  

 

DR. LEOPOLDO & DR. EDGAR TEIXEIRA LEITE

     Leopoldo Teixeira Leite, filho do Barão de Vassouras com a segunda esposa, D. Ana Alexandrina, nasceu em Vassouras no dia 3 de novembro de 1859, mas desenvolveu praticamente toda sua política em Paraíba do Sul, cidade onde substituiu na promotoria o afamado Benedito Valadares em março de 1881, quando mal completara 23 anos. Homem de inteligência invulgar, de coragem inaudita e polemista por excelência, deixou a promotoria para advogar em favor de causas mais populares, lançando naquele mesmo ano o jornal A República, em sociedade com Soares de Souza Jr. Em junho de 1882, fundou o Partido Republicano em Paraíba do Sul, e graças a seus notáveis méritos como político honrado e respeitável, alcançou a Presidência da Intendência em maio de 1890 e a Vice-Presidência do Estado no ano de 1891. Entre julho de 1892 e janeiro de 1895, governou Paraíba do Sul na qualidade de Presidente do Executivo e do Legislativo, fazendo uma administração que até hoje é considerada pelos historiadores como a melhor de toda a História daquele município. Em sequência, Leopoldo veio a ser Vereador, Deputado Estadual e Presidente da Assembleia várias vezes, elegendo-se ainda Deputado Federal pelo Estado do Rio. Mesmo circulando em meio a tantas atividades políticas e sociais em Paraíba do Sul e no Rio de Janeiro, ainda encontrou tempo para fundar e dirigir a Faculdade de Direito de Niterói.

     Divergências políticas levaram-no a sofrer um atentado a bala cometido por Angelino Moreira em 1 de setembro de 1907, bem junto à porta da casa que ele construíra à beira-rio, em Paraíba. Nos finais do anos vinte, o Dr. Leopoldo retirou-se em definitivo para Niterói, onde faleceu em 13 de março de 1932, depois de dedicar 50 anos de vida à causa pública.

     Já o Dr. Edgar Teixeira Leite, filho do Dr. Leopoldo com D. Inês Figueira de Melo, nasceu em Paraíba do Sul em 1895. Formado em Agronomia, foi Diretor-Geral de Experimentação Agrícola em Pernambuco, Prefeito do Município de Gameleira, Secretário de Fazenda e Secretário de Agricultura, além de Deputado Federal por Pernambuco (de 1933 a 1950) e Membro do Conselho Nacional de Economia. Escritor prolífico, publicou vários estudos sobre temas rurais e econômicos. Com a esposa Leonor, gerou três descendentes a saber: Emília Cavalcanti Teixeira Leite; Maria Ignez Cavalcanti Teixeira Leite (Rocha Santos); Leopoldo José Cavalcanti Teixeira Leite e Vera Maria Cavalcanti Teixeira Leite.

 

Imagem da Galeria Fachada da Fazenda
Imagem da Galeria Pianola
Imagem da Galeria Cama trazida da França
Imagem da Galeria Marquesa
Imagem da Galeria Uma das salas da Fazenda Igapira
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