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Vassouras do Café e da Poesia

Vassouras do Café e da Poesia

Data de Publicação: 1 de janeiro de 2017 11:11:00

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Por Waldir Ribeiro do Val*


    A cidade de Vassouras, da alta nobreza, tinha as fazendas de café enriquecendo seus proprietários, o dinheiro circulando por toda a parte. A cidade se dava o luxo de contratar companhias estrangeiras de teatro, as festas eram grandiosas. O café sustentava a vida comercial, social e política da cidade, ajudado pela cultura da cana de açúcar e de cereais. A lavoura do Município dispunha de vinte mil escravos, além de elevado número de colonos. Mas a economia cafeeira fora decaindo. É verdade que houvera alguns melhoramentos. O de maior monta havia sido a construção da estrada de ferro ‘Vassourense”, ligando a cidade à antiga estação de Vassouras.
    O ambiente cultural mostrava-se bem adiantado. Em 1885 circulavam no município nada menos do que nove jornais: “O Vassourense”, “O Rodeio”, “O Club”, “O Porvir”, “O Lábaro”, “O Canário”, “A Quinzena”, além de outros. E na cidade residiam espíritos de importância cultural, interessados em literatura, como Lucindo Filho, médico e latinista, Alberto Brandão, Rodolfo Leite Ribeiro, Alfredo Pujol, Jorge Pinto.
    A esse ambiente literário iria ingressar o poeta Raimundo Correia, ainda jovem, nomeado juiz municipal e de órfãos. O Vassourense, noticiando sua estada na cidade, refere-se a ele numa nota cheia de deferências pelo poeta e pelo magistrado.
    Raimundo Correia já era poeta consagrado, tivera seu livro “Sinfonias” prefaciado por Machado de Assis, e era colaborador de vários jornais do Rio de Janeiro. Ali, em Vassouras, iria dividir seu tempo entre os trabalhos do foro e as colaborações para os jornais. Tinha também de substituir o juiz de direito em seus impedimentos. Seu ponto de reunião predileto era a redação do Vassourense, na rua Barão de Vassouras, número 61. Alfredo Pujol recordou esse tempo: Escuto a voz de Raimundo Correia, recitando-nos estrofes dos Versos e Versões que estava para dar ao prelo.
    Raimundo Correia recebia às vezes visitas de poetas amigos: Rodrigo Otávio, Lúcio de Mendonça, Alberto de Oliveira. Foi numa estada em Vassouras que Alberto de Oliveira, de parceria com Raimundo Correia assina o folhetim intitulado “Olavo Bilac”, apresentando o então jovem poeta de vinte anos aos leitores.
    Residindo em Vassouras, Raimundo Correia escrevia aos amigos poetas, principalmente a Alberto de Oliveira e Lúcio de Mendonça.
    Da passagem de Raimundo Correia por Vassouras resta uma preciosa plaqueta, escrita e publicada pelo poeta quando do falecimento de seu amigo vassourense (por adoção), o
tradutor de poetas latinos Lucindo Filho. Diria alguns anos depois: “Que valem as coisas, em suma, sem a alma que lhes infundimos com um bafejo da nossa própria alma, sem os gestos, sem as feições, sem as atitudes, sem as cores ideais que lhes emprestamos? Assim tu, Vassouras, não és para mim, decerto, os teus ricos palácios apenas,’ nem os teus pitorescos jardins, nem as tuas esbeltas palmeiras, que com as suas verdes ventarolas trêmulas, pareciam acenar de longe aos caminhantes, festivamente aos que chegavam, saudosamente aos que iam... Tu és, sim, a perpétua lembrança dos que amei um dia em teus risonhos sítios, daqueles com quem convivi, com que o meu coração se soube entender e que me não souberam magoar jamais.”
    Por tudo isso, que se foi renovando ao longo dos anos, até hoje, Vassouras deve ser vista como antiga terra do café, mas também como berço da cultura em geral, e da poesia em particular.

 

Imagem da Galeria Sr. Waldir Ribeiro do Val
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