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Fazenda das Palmas

Data de Publicação: 1 de janeiro de 2018 15:28:00 Um legado para as futuras gerações

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    Construída ainda no século XVIII, a Fazenda das Palmas foi uma das pioneiras no cultivo do café no Vale do Paraíba. Segundo o Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense, teria sido fundada por Bento Luiz de Oliveira Braga, dono de grandes propriedades produtoras de cana-de-açúcar na província do Rio de Janeiro que passou a investir no plantio do café no Vale do Paraíba. Mas somente mais tarde, depois de adquirida - ao que tudo indica - por Antônio Félix de Oliveira Braga, quando chegou a possuir 650 alqueires geométricos de terras, é que ganhou destaque como importante fazenda produtora de café. A partir desse período, Palmas se destacou também como produtora de aguardente.
    A propriedade possuía uma localização privilegiada e estratégica na região de Sacra Família pois situava-se bem perto do entroncamento das estradas da Polícia (1817) e do Caminho Novo de Sacra Família do Tinguá (1750). Isso vale ainda hoje pois está há 2 Km apenas da RJ 121 que liga Vassouras à Miguel Pereira e Paty do Alferes. E bem próxima também de Mendes e Engenheiro Paulo de Frontin - nesse último município aliás, onde está sediada. 
    No ano de 1878, já tendo mudado de proprietário, a fazenda estava nas mãos de Henrique Gaspar Lahmayer, um genro do dr. Caetano Furquim de Almeida. Em 1886 foi instalada na Fazenda das Palmas a Companhia Agrícola e Colonizadora de Vassouras, cujo maior acionista era o próprio Henrique Lahmayer. Segundo a historiadora e pesquisadora Roselene Martins, a companhia pretendia explorar não só as terras de Palmas como de outras propriedades e tinha objetivos ousados para a época como a substituição da mão de obra escrava pelo trabalho livre e a substituição da agricultura extensiva pela intensiva. Mas uma fatalidade pôs fim à companhia e todo um sonho de progresso. Henrique sofreu um “mal súbito” no ano seguinte à criação da empresa, que foi dissolvida pelos herdeiros assim como vendida a Fazenda de Palmas para Joaquim Gomes Leite de Carvalho, o segundo barão do Amparo. O barão faleceu em 30 de abril de 1921, ainda proprietário da fazenda.
    A Fazendas das Palmas hoje pertence à família do ex-banqueiro e empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, como é carinhosamente conhecido. Braguinha é um grande incentivador e mecenas do esporte brasileiro tendo impulsionado e colaborado com a carreira de grandes nomes do esporte mundial como Ayrton Senna e Gustavo Kuerten, dentre muitos outros. A senhora Luiza Almeida Braga, junto com a filha e um genro é quem conduz hoje a fazenda de forma impecável e sempre pensando no futuro. Luiza conseguiu reinserir a fazenda nos roteiros turístico-culturais do Vale do Café e realiza ali um trabalho primoroso de recuperação da mata atlântica e de seu uso sustentável. A fazenda voltou a produzir aguardente e a plantar café, mas respeitando a mata. Em Palmas hoje, café e floresta convivem em perfeita harmonia. Mais do que em harmonia, um cuida do outro. 
    A construção passou por diversas intervenções e modificações ao longo dos anos, mas algumas características arquitetônicas foram preservadas. Ainda de acordo com o Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense, “trata-se de um casarão de fazenda tradicional construído sobre porão alto com dois óculos ovais para ventilação. O corpo da edificação conta, na fachada principal, com 11 vãos em arco pleno, ditando o alpendre uma divisão em três tramos de composição”. No inventário, disponível gratuitamente na internet há uma descrição arquitetônica minuciosa do imóvel.
    No interior da casa, o destaque está na capela - único cômodo originalmente preservado - com retábulo de madeira e altar-mesa ornamentados em dourado, mantendo imaginária de porte variado. O forro de madeira no formato de gamela apresenta pintura de cunho religioso inscrita em molduras com formas geométricas. 

Turismo, educação ambiental e responsabilidade social 

    Palmas explora bem o filão do turismo cultural e o grande fluxo de turistas que vêm para região consumir esse tipo de produto. Participa do Festival Vale do Café e recebe grupos em visitas previamente agendadas em determinados períodos do ano. Durante a visita o turista tem a oportunidade de conhecer parte das áreas internas do casarão, de conhecer o alambique e o belíssimo trabalho de agrofloresta e recuperação da mata.
    Luiza explica que a relação com o turismo surgiu da vontade de popularizar o modelo de agricultura sintrópica adotado em Palmas e da necessidade de inserir a fazenda no perfil do Vale do Café. 
    Mas a coisa ali vai muito além disso. Palmas realiza diversas ações e atividades de interação com a comunidade local, inserindo inclusive a comunidade em muitas das atividades realizadas na fazenda. Tem até uma padaria própria que serve à comunidade do entorno da fazenda. Algumas das atividades por exemplo, foram pensadas exclusivamente para os alunos de uma escola vizinha à fazenda. É a Escola Municipal Barão do Amparo que pratica nas dependências de Palmas todo um programa educativo por meio do esporte, da história e do meio ambiente onde os alunos têm contato direto com a natureza, com os animais e com o cotidiano da fazenda. Durante todo o ano as crianças praticam esportes como golfe, hipismo, badminton e tênis e no final do ano há uma culminância, uma atividade comemorativa com a participação dos pais e jogos entre os alunos. 
“A interação com a comunidade de Palmas e com a escola é uma das nossas  maiores preocupações. O contato com os alunos e com os professores criou um canal de comunicação privilegiado para tentarmos entender a dinâmica das relações entre o poder público e a população, por exemplo. Por outro lado estamos na zona rural onde a agricultura é meio de vida. Nesse sentido, a fazenda pode colaborar ajudando a tornar mais visíveis e conhecidas determinadas técnicas agrícolas, estimulando comportamentos mais ecológicos e sustentáveis e colaborando para mudar a mentalidade dominante”, contou Luiza à REVISTA VALE DO CAFÉ.

        
Um grande exemplo para o Vale do Café e para o mundo

    Embora esteja localizada em uma área privilegiada da Mata Atlântica, Palmas sofreu as mesmas consequências de toda a região por conta da monocultura do café e de outras monoculturas. Quando a família Almeida Braga chegou na Fazenda em 2012 havia uma extensa área de eucaliptos, cerca de 15 hectares. Já tinham compromisso com a preservação das matas existentes e a intenção de expandir a zona de floresta. Foi necessário todo um trabalho, todo um planejamento para recuperar as áreas degradadas e reestabelecer o equilíbrio do ecossistema local. E Palmas tem avançado bastante nesse sentido.
    Para colaborar nessa missão convidou Sergio Olaya, especialista em agrofloresta e agricultura sintrópica, um dos discípulos do renomado Ernest Goetsch. Sérgio foi convidado para recuperar áreas degradadas com sistemas agroflorestais, introduzindo inclusive o plantio do café em harmonia com a floresta. “O desafio é encontrar um equilíbrio numa agricultura que não degrada, que não mineraliza e que  recompõem a floresta e aumenta os recursos em água, em biodiversidade e em vida de uma maneira geral e ao mesmo tempo seja viável economicamente”, afirma Sérgio.
    A Fazenda das Palmas tem dado um grande exemplo ao Vale do Café. Mas seus proprietários têm consciência de que não adianta fazer só ali. É uma questão que precisa ser levada muito a sério por toda a comunidade e por todo o entorno da fazenda. Por isso, além do trabalho específico de recuperação da mata, periodicamente Palmas abre as portas para interessados em cursos de Sintropia e Agrofloresta, ministrados pelo próprio Sergio Olaya.
    “A gente entende que a educação não só ambiental, mas a educação para todos tem de começar nas escolas de base, nas universidades e a Fazenda das Palmas pretende ser um centro catalisador dessa discussão pra gente e todo mundo junto pensar qual a nossa alternativa diante desse modelo vigente que não está funcionando”, conta o esperançoso agricultor, como Sergio Olaya prefere ser chamado e reconhecido.
    E o trabalho em Palmas já tem dado ótimos resultados. É visível a melhoria do solo, do micro-clima e do crescimento da floresta em relação ao dia em que chegaram ali. “Não é fácil, é trabalhoso, mas é possível, estamos iniciando o trabalho num área menor em áreas pequenas e buscando alternativas para áreas maiores, mecanizadas para que o grande agricultor entenda que ele pode pelo menos começar a fazer corredores agroflorestais e faixas com árvores e que esses corredores também se tornarão produtivos em médio e longo prazo”, conclui Sérgio.

Agricultura Sintrópica 

    A Agricultura Sintrópica trabalha com a recuperação pelo uso. Ou seja, o estabelecimento de áreas altamente produtivas e independentes de insumos externos tem como consequência a oferta de serviços ecossistêmicos, com especial destaque para a formação de solo, a regulação do micro-clima e o favorecimento do ciclo da água. O conceito foi sistematizado por Ernst Götsch, agricultor e pesquisador suíço, criador do conjunto de princípios e técnicas que compõem a Agricultura Sintrópica. Com mais de 40 anos de experiências e realizações, Götsch desenvolveu uma agricultura que concilia produção agrícola e recuperação de áreas degradadas.


Localização: Estrada das Palmas, 9444 - Palmas (Entre Sacra Familia/Vassouras)

Como chegar: Há dois acessos principais:

- Pela RJ-121,que liga Vassouras a Miguel Pereira;
- Pela Estrada das Palmas, que liga a sede do município Engenheiro Paulo de Frontin à localidade de Barão do Amparo.


Tel.: (24) 2468-1489

Email: fazenda.palmas@gmail.com

Fontes:

- Entrevista com proprietários e colaboradores da Fazenda das Palmas.

- Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense (Inepac / Instituto Cidade Viva) - AII – F03 – PF.

- Site oficial da Agenda Gotsch (http://agendagotsch.com/)

Imagem da Galeria Vista aérea da Fazenda das Palmas
Imagem da Galeria Sala de estar
Imagem da Galeria Sala de jantar
Imagem da Galeria Área externa com piscina
Imagem da Galeria Alunos da Escola Municipal Barão do Amparo realizando atividades esportivas na Fazenda
Imagem da Galeria Pé de café em harmonia com a natureza
Imagem da Galeria Sergio Olaya
Imagem da Galeria Luiza Braga e Sergio Olaya,
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